Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 23 de abril de 2020

Engenharia Compartilhada - Sobratema e Analoc fomentam discussão sobre os impactos do coronavírus na construção civil

SOBRATEMA E ANALOC FOMENTAM DISCUSSÃO SOBRE OS IMPACTOS DO CORONAVÍRUS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Na última quinta-feira (17), a Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) e a Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações Representantes dos Locadores de Equipamentos, Máquinas e Ferramentas (Analoc) promoveram o webinar “Impactos e Perspectivas Pós-Coronavírus no Setor da Construção e no Segmento de Locação de Equipamentos”, com o objetivo de propor uma reflexão sobre novos caminhos para os negócios. 

A ação foi mediada por  Luís Artur Nogueira, jornalista e economista, que dividiu a apresentação em três partes (a reação do mundo ao coronavírus, os impactos na economia brasileira e o cenário pós-crise), a partir da seguinte questão: o mundo não acabou, apenas fechou temporariamente para balanço em decorrência da nova doença e reabrirá quando ela permitir, o que já começa a acontecer na China e em alguns países europeus.

A partir de então, o jornalista lembrou que a economia global já estava desacelerando em decorrência da guerra comercial travada entre Estados Unidos e China. Ou seja: já não seria um ano fácil, mas a Covid-19 veio para agravar ainda mais a situação. “O mundo está em recessão e o andamento dela dependerá de alguns fatores principais. Primeiramente, quanto mais a China conseguir crescer neste ano, mais suavizada a recessão global será. Por outro lado, quanto maior for o ‘tombo’ dos Estados Unidos, mais a economia global será prejudicada”, apontou. Para se ter uma base, as previsões mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) revelam que a economia americana deverá encolher 5,9% em 2020, enquanto a China deverá crescer 1,2%. 

Na visão de Nogueira, o desenrolar da situação está amarrado a um ponto principal: se haverá ou não uma nova onda de contaminação do coronavírus nesses países. Além disso, o momento veio para mostrar que o mundo ainda é muito dependente da China e que é preciso pensar em alternativas de como resolver essa questão.

Juan Manuel Altstandt, vice-presidente da Sobratema e diretor geral da Herrenknecht do Brasil, complementou a fala do jornalista na primeira parte da apresentação ao trazer uma visão dos impactos que já vem sendo percebidos na Europa, especialmente no segmento de máquinas e equipamentos pesados para a construção civil. Segundo ele, este nicho reúne aproximadamente 1.200 empresas, com 300 mil empregos diretos e um faturamento na ordem de 40 bilhões de euros, o que representa 20% da produção mundial. 

“Dessas 1.200 fábricas, 62% estão fechadas ou com a produção significativamente afetada, 35% estão com a produção levemente afetada e apenas 3% não sofreram alterações em suas operações. Vale lembrar que as empresas paradas ou significativamente afetas estão nessa situação em decorrência da parada das obras ou do cancelamento de novos projetos, restrições de viagens, de movimentação geral e pela quebra na cadeia de produção, que resulta na indisponibilidade de componentes”, disse. Diante destes números, a previsão para este ano é de que 11% dessas empresas poderão perder 10% de sua produção; 40% perderão entre 10 e 30%; 32% perderão mais de 30% e, novamente, apenas 3% passarão pela crise sem nenhum impacto.

E o que podemos esperar no Brasil?

Na segunda parte do webinar, Nogueira apontou que a recessão da economia brasileira já é uma certeza para 2020 e que, em breve, sentiremos saudade dos chamados “pibinhos” (crescimento em torno de 1%). Caso a recessão do país supere os 5%, é possível que uma depressão econômica aconteça e traga, como consequência, o caos social descontrolado, marcado pelo desemprego. No entanto, o jornalista pondera que não deveremos chegar à essa situação e que o cenário mais provável é a recessão econômica na faixa dos 3% a 5%. 

“O que já podemos sentir até o momento são a alta do dólar, a queda das Bolsas, o fechamento temporário de fábricas e lojas, a ampla adoção do home office por parte das empresas, a redução de salários e jornadas de trabalho, bem como demissões”, disse o mediador, listando também a queda abrupta da arrecadação, o engavetamento da agenda de reformas e a antecipação da disputa política de 2022.

No que diz respeito às medidas que já vem sendo tomadas, ele destaca:

• BC: redução de juros e depósitos compulsórios.

• BNDES: carência em empréstimos e foco na folha.

• Bolsa Família: ampliação para mais de 1,2 milhão.

• INSS: antecipação das duas parcelas do 13°.

• Empresas: 3 meses sem recolher o FGTS.

• Trabalhadores informais: recebimento de três parcelas no valor de R$ 600.

Entre as sugestões do que ainda poderia ser feito, Nogueira ressalta a aceleração da transmissão do dinheiro até a ponta final, o fornecimento de crédito para as pequenas empresas sem a exigência de garantias, o aumento dos investimentos públicos em infraestrutura e a união polícia nacional com um discurso de previsibilidade. “É importante pontuar, ainda, que a liberação excessiva de FGTS pode trazer um risco para o setor, afetando especialmente os negócios imobiliários”, complementa.

Diante de todas essas variáveis, Luís Artur Nogueira apresentou as suas projeções econômicas para 2020, com base em quatro premissas centrais: “lockdown” até o final de abril; isolamento seletivo a partir de maio; retorno às aulas em junho e vida normal a partir de agosto. São elas: 

• PIB: -6% a -2%;

• Inflação (IPCA): 2,5%;

• Juros básicos (Selic): 3% ao ano;

• Dólar: R$ 4,50 a R$ 5,50;

• Produção industrial: queda de 1 a 7%;

• Varejo: -3% a 1%;

• Crédito total: 5% a 10% de alta;

• Investimento estrangeiro direto: 50 a 80 bi de dólares;

• Desemprego: salto do patamar atual de 11% para 15%.

Aqui, vale pontuar que as projeções irão variar de acordo com a concretizações das quatro premissas básicas consideradas pelo jornalista. Em outras palavras, quanto mais as premissas atrasarem, pior será a projeção econômica. 

Um olhar sobre o futuro da construção e da locação de equipamentos

Na última parte do encontro, Nogueira apresentou sua visão sobre os setores imobiliário e da construção pesada. O primeiro deles, se destaca por apresentar uma significativa recuperação nos últimos anos e por ter obtido resultados positivos em 2019, especialmente na área residencial. “Devido a isso, felizmente temos obras em andamento em 2020, que continuam acontecendo, uma vez que a construção civil está entre setores liberados a operarem normalmente durante a quarentena”, diz. Outras tendências que merecem atenção é que a incerteza do momento pode paralisar novos lançamentos e atrasar algumas obras. Na outra ponta, o período vem sendo marcado pelo crédito imobiliário barato e com carência.

Sobre a construção pesada, por sua vez, o especialista ressalta algumas preocupações. Para começar, trata-se de um setor que já não apresentava recuperação consistente e, além disso, o Ministério da Infraestrutura possui apenas R$ 6 bilhões para serem investidos em 54 obras em 2020. 

Em contrapartida, a boa notícia é que Tarcísio de Freitas, Ministro da Infraestrutura, anunciou recentemente que irá pedir mais R$ 30 bilhões para 70 novas obras, o que traz oportunidades para o setor. Além disso, o governo pretende lançar um pacote de obras pós-crise, que inclui a concessões de 44 projetos no 2° semestre deste ano. A partir desta iniciativa, estima-se que o setor da construção poderá gerar cerca de 1 milhão de empregos nos próximos meses.

Como avaliação final, Nogueira pontuou que o momento traz uma oportunidade de ouro para que as entidades discutam a importância de o governo priorizar investimentos públicos, especialmente na área de saneamento, que se mostra bastante promissora. “A mensagem é de que a velocidade de recuperação do Brasil dependerá da nossa capacidade de salvar empresas e trabalhadores. Logo, 2021 será melhor na medida em que conseguirmos proteger as companhias e os consumidores”, concluiu.