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Publicado em 23 de novembro de 2023 por Mecânica de Comunicação

Resíduos antropogênicos em mares ameaçam a vida de tartarugas marinhas

As tartarugas marinhas vêm sofrendo ameaças que incidem ao longo de todas as fases de seu ciclo de vida, como a captura incidental na pesca, o desenvolvimento urbano das praias de desova com consequente redução destas áreas na costa e os impactos por poluição química e por resíduos nos oceanos e áreas costeiras.

A interação com resíduos antropogênicos vem sendo crescentemente relatada nas últimas duas décadas e todas as sete espécies já foram reportadas com ingestão de resíduos sólidos. Uma das causas propostas para explicar essa incidência de casos seria a similaridade visual do resíduo com seu alimento natural. Uma quantidade pequena de resíduos é suficiente para bloquear o trato digestivo e causar a morte de uma tartaruga.

Uma pesquisa realizada no Sul do Brasil mostrou que 23 de 38 tartarugas marinhas examinadas possuíam resíduos antropogênicos no estômago indicando que a origem desses resíduos poderia ser, além da atividade pesqueira, por atividade turística nas praias da região. Os resultados alertam para a adoção de ações mais efetivas em relação à redução da produção e do uso de materiais sólidos descartáveis. Indicam também que deve ser dado foco nos itens plásticos, uma vez que são descartados diretamente em áreas costeiras ou chegam nessas áreas através da poluição.

No caso do Rio de Janeiro, o litoral centro-sul do estado é caracterizado pela presença de grandes empreendimentos industriais, portos, centros urbanos, expressiva atividade turística, intenso tráfego de embarcações, intensa atividade pesqueira artesanal e industrial, e suas três distintas baías, Baía de Guanabara, Sepetiba Baía, Baía da Ilha Grande. Por ser uma área de alimentação popular, um número significativo de tartarugas pode ser encontrado em toda esta região.

A dissertação de mestrado Avaliação da ingestão de resíduos sólidos por tartarugas-verdes, Chelonia Mydas (Linnaeus, 1758), no litoral Centro-Sul do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, defendida por Beatriz Guimarães Gomes, no Programa de Pós-Graduação em Biologia Marinha do Departamento de Biologia Marinha Instituto de Biologia Universidade Federal Fluminense, sob orientação do professor Fábio Vieira de Araújo e coorientação da professora Suzana Machado Guimarães, realizou uma análise a partir de informações do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (BMP-BS) no estado do Rio de Janeiro (até a Praia da Vila, em Saquarema), que tem o objetivo de registrar a ocorrência de animais marinhos encalhados, principalmente quelônios, mamíferos e aves marinhas, e determinar se existe relação entre o encalhe desses animais com as atividades realizadas.

De maio de 2019 a março de 2021, foram coletadas 1.616 tartarugas marinhas entre Paraty e Praia da Vila (Saquarema), sendo 1.376 da espécie Chelonia mydas. Depois de examinar parte dessas tartarugas, a equipe de pesquisa registrou uma contagem total de 1.683 resíduos antropogênicos. Em 46 tartarugas marinhas (69,7%), foi encontrado pelo menos um resíduo antropogênico.

A pesquisa comprova que os resíduos antropogênicos vêm impactando bastante as tartarugas marinhas, independentemente do tamanho, local, tipo e cor. Foi possível observar que há necessidade de aumentar esforços e quantificar as ameaças potenciais que os resíduos antropogênicos possam representar, não só às tartarugas marinhas, mas também à biota marinha, uma vez que o aumento da preocupação leva ao aumento do esforço amostral do tema.