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Publicado em 03 de novembro de 2022 por Mecânica de Comunicação

Aliar o retrofit à Avaliação do Ciclo de Vida amplia o desempenho sustentável da edificação

Não existe material beneficiado totalmente “verde”. Todos os produtos contêm em suas fases de produção elementos que agridem a saúde do planeta, como o consumo de água. Não é possível edificar sem impactar o meio ambiente, no entanto, a metodologia Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) exibe e monitora os danos, dando espaço para que o ecossistema seja capaz de se recompor junto ou antes de novos impactos.

É importante lembrar que a integração do edifício com o meio ambiente se dá em momentos distintos de sua existência, em linhas gerais contempla as seguintes etapas: Planejamento, Projeto, Implantação, Operação, Manutenção e Demolição, ou seja, enfatiza que o Ciclo de Vida de um edifício deve ser cíclico.

As novas edificações devem incluir estratégias resilientes que vão ao encontro da ACV, quando pensadas de maneira cíclica. As edificações existentes não podem simplesmente serem jogadas ao chão: é importante avaliar o desmonte, a reciclagem e a reutilização de materiais nas intervenções de reforma de edificação. É neste ponto que o conceito Design for Design for Deconstruction (DFD) reflete o fazer da arquitetura resiliente com condições de intervenção futura. Desse modo, a prática da técnica de retrofit pode propor a longevidade no ciclo de vida das edificações.

A técnica retrofit permeia uma variedade de intenções através de uma avaliação crítica do objeto de intervenção. É necessário o Pré-Diagnóstico para se avaliar a viabilidade de aplicação da técnica retrofit e o Diagnóstico para investigar o grau de intervenção possível, contudo, é necessário visualizar e discutir o retrofit mediante a sua possibilidade de contribuir com às metas para o Desenvolvimento Sustentável (DS) na Agenda 2030.

A metodologia de ACV aplicada em conjunto com a técnica retrofit pode ampliar consideravelmente o desempenho da edificação perante ao combate dos impactos ambientais: desde os impactos já ocasionados, até os que vão ocorrer durante a intervenção e na operação dos edifícios. Assim, o ciclo de vida linear da edificação recomeça em um sistema cíclico de vida na medida em que aproxima a compreensão do sistema cíclico da natureza ao ciclo de vida da indústria da construção civil.

Um exemplo, em São Paulo, é o edifício Citicenter, situado na Avenida Paulista. Inaugurado em 1986, o edifício foi o precursor dos sistemas inteligentes de controle de edifício na cidade, ao implantar tecnologias atreladas aos sistemas de monitoramento voltados ao controle de consumos energéticos. Para iluminação, o sistema de monitoramento era descentralizado, dividido por áreas estratégicas no edifício com circuitos que centralizavam em setores de controle, uma revolução para época.

O retrofit do Citicenter veio ao encontro do compromisso firmado na COP 21 e pode ser entendido como uma reforma consoante ao conceito de ACV por compreender a sustentabilidade junto as técnicas de atualização do edifício. Dois fatores contribuíram fundamentalmente nas ações do retrofit: a sustentabilidade já estava em curso como política do banco e o Citibank utilizava processos de licitação para garantir a contratação adequada de fornecedores. Como resultado, O Citicenter foi o primeiro edifício a obter um certificado na Avenida Paulista na categoria de edifícios existentes. A intervenção acumulou 51 pontos no checklist da LEED O+M em 6 áreas de avaliação das 9 possíveis, recebendo o nível Silver de certificação.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Desenvolvimento sustentável na arquitetura contemporânea paulista do Século XXI: O retrofit sob a ótica da avaliação do ciclo de vida, defendida por Rodrigo de Paula Ferreira, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu, sob orientação da professora Edite Galote Carranza.