Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 26 de fevereiro de 2016

Portal dos Equipamentos - Operador sem treinamento é vítima, não vilão

 

Operador sem treinamento é vítima, não vilão

Erro de operação é causa principal de acidentes com equipamentos e mostra despreparo do operador

Redação PE

Acidentes com equipamentos de construção continuam vitimando pessoas por todo o mundo. Desde tombamento de guindaste sobre estruturas vizinhas, plataforma de trabalho aéreo eletrocutada, escavadeira despencando de carreta prancha ou atolando na lama, até pá carregadeira que vira em rio na tentativa de içar caminhão submerso. A lista acumula tragédias aparentemente tolas agravadas por falhas graves.

No Brasil, não há um número atualizado de acidentes por tipo de equipamento e os dados disponíveis ainda são genéricos. Segundo o Ministério do Trabalho, de 2011 a 2013 aconteceram 287 acidentes relacionados a guindastes e outros equipamentos de guindar, com 18 mortes.

No que tange a plataformas de trabalho aéreo, os dados mais recentes também são de três anos atrás e engloba vários países. De acordo com a Federação Internacional de Plataformas Aéreas (IPAF) em 2013 houve 53 mortes em acidentes envolvendo plataformas elevatórias móveis de pessoas. As principais causas foram capotamento, queda em altura, aprisionamento, eletrocussão, colisão e queda de objetos. Na ocasião, 30 acidentes com vítimas fatais ocorreram nos EUA, três foram relatados na Alemanha, Espanha e no Reino Unido, duas vítimas fatais na Bélgica, no Canadá, em França e nos Países Baixos, e uma na Armênia, Austrália, Irlanda, Malásia, Noruega e no Oriente Médio.

FALTA DE INTERESSE DAS EMPRESAS EM TREINAR OPERADORES

Para os entrevistados, os acidentes no Brasil e no mundo são reflexo da falta ou da inconsistência de treinamento de mão de obra. Operadores não são vilões imprudentes, mas sim vítimas despreparadas para o trabalho. O diretor da JC Iazdi, Jacques Chovghi Iazdi, enfatiza que embora o operador seja o principal responsável na frente de trabalho, se não tiver preparo suficiente em horas de treinamento torna-se mais uma vítima.

“Muitas empresas ainda não acham prioritário investir em treinamento e o resultado tem sido preocupante, com operadores que sequer sabem informar o peso do equipamento em que trabalham”, exemplifica Jacques. “Alguns conhecimentos são imprescindíveis e se ele não souber procedimentos de operação, a responsabilidade é da empresa empregadora. Mas infelizmente muitas só treinam porque são obrigadas, há situações em que operadores despreparados recebem certificados de operação de plataformas e isso pode ser desastroso”.

Jacques explica que a NR 35 determina a quantidade mínima de oito horas para se treinar um operador de plataformas, com especificação do conteúdo programático teórico e prático. “O conteúdo do nosso treinamento inclui quatro horas para a parte teórica e de quatro a oito horas para a prática”, informa.

Wilson de Mello Jr., diretor de Certificação e Desenvolvimento Humano da Sobratema – Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração, reforça que não é mais possível assistir passivamente os elevados números de acidentes de trabalho, sem que haja ações para reverter esse quadro. “Além das perdas humanas, chega a ser desafiador o impacto que acidentes de trabalho causam em nossa economia”, explica. “Em uma conta rápida, podemos estimar que cada acidente custaria em torno de R$ 100 mil para a empresa”, acrescenta.

ELEVAR OS NÍVEIS DE QUALIFICAÇÃO É O CAMINHO

Em função disso, a Sobratema e a ABENDI – Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção criaram desde 2014 o primeiro sistema de certificação de terceira parte para a área de movimentação e içamento de cargas, com base em normas internacionais (ISO 17.024). O treinamento visa elevar os níveis de qualificação dos profissionais envolvidos com equipamentos que atuam na indústria da construção e mineração. Na primeira fase, foram consideradas as funções de rigger,supervisor de rigging e sinaleiro amarrador.

Para esse ano, novas funções foram incluídas: operadores de guindaste, de grua, de guindauto e de ponte rolante/pórtico. No caso dos operadores de guindastes, por exemplo, são solicitadas informações que comprovem a experiência profissional como operador em diferentes categorias de guindastes, além da formação escolar, da comprovação de treinamentos e cursos para formação de operador, complementada com  aptidão  para exercer a função.

Marcos Cunzolo, diretor da Cunzolo, defende que a segurança na operação com guindastes é hoje uma das preocupações no setor da construção no Brasil. “Antes de iniciar uma operação, técnicos de segurança da empresa contratada e a contratante devem ir até o local da operação para avaliar o cenário, identificar riscos e aplicar todas as medidas para neutralizar a ocorrências”, diz Marcos.

Para ele, os treinamentos de segurança precisam ser frequentes para os colaboradores. “Nossos operadores de guindastes são treinados e certificados pelo IBC (Instituto Brasil Canadá), todos tiveram o Curso Segurança em Operação de Guindastes IPS (IPS engenharia de rigging), e ainda fizeram um curso de direção defensiva junto com motoristas. Tudo isso é reforçado pelos DDS (diálogo de segurança) internos que, em 2013, foram realizados em média oito vezes por mês”, arremata Marcos.

DISPUTA PARA CERTIFICAÇÃO DE OPERADORES EM BOMBEAMENTO

A agenda da Schwing-Stetter Brasil está preenchida até o mês de abril para a certificação de profissionais in company em estados como Pará, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e até na Argentina. “A certificação é rápida, dura dois dias e geralmente é realizada em finais de semana para não interferir nos horários de expediente das empresas”, conta Daniel Silva, responsável pelos treinamentos da Schwing.

“Agora todos os interessados podem adquirir certificados, independente de estarem vinculados a empresas concreteiras ou de bombeamento. A Schwing ministra treinamentos para pessoas físicas nas instalações da fábrica, em Mairiporã, e o pagamento pode ser efetuado com cartão de crédito”, informa Daniel Silva.

“Os treinamentos passaram a ser classificados como certificação graças ao conteúdo completo, aos padrões de exigência e à maneira como são conduzidos. Para o operador ser certificado precisa passar por avaliações teóricas e práticas, tudo seguindo as exigências da NR 12 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) sobre segurança no trabalho em máquinas e equipamentos – qualificação profissional”, explica Daniel Silva.

 

COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA

Jacques Chovghi Iazdi - Diretor da JC Iazdi

Daniel Silva - Responsável pelos treinamentos da Schwing-Stetter

Marcos Cunzolo - Diretor da Cunzolo

Wilson de Mello Jr. - Diretor de certificação e desenvolvimento humano da Sobratema

IPAF (Federação Internacional de Plataformas Aéreas)

Ministério do Trabalho