Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

Publicado em 11 de março de 2022

TrendsCE - A indústria nacional está inovando o suficiente para atender o mercado?

A indústria nacional está inovando o suficiente para atender o mercado?

ECONOMIA INOVAÇÃO
Por: Gladis Berlato | Em: 17 de março de 2022
Tags:Setor Industrial
É quase uma regra: os países que têm na indústria sua força propulsora, apesar da pandemia, continuaram investindo em modernização de seus parques e de seu capital humano para não perderem competitividade frente a um mundo global em transformação. No Brasil, esta realidade se aplica mais às grandes e médias empresas, em geral exportadoras, que investem em inovação para garantirem seu espaço no mercado.

 Na visão do diretor da SM Investimentos, Sérgio Melo, que acompanha de perto os movimentos do mercado, houve um acelerado avanço na área da tecnologia da informação provocando alterações nos processos e na mão-de-obra empregada, que teve que se qualificar para migrar para novos postos. Integrante de um grupo multidisciplinar da Federação das Indústrias do Ceará para a implantação de uma plataforma de desenvolvimento para o Estado, fruto das dores e das expectativas de mais de 40 sindicatos filiados, Melo diz que houve uma maior internacionalização da economia brasileira nos últimos dois anos, seja através de joint-ventures ou de transferência de tecnologia.

“Sem isso, o país assistiria ao aumento ainda maior da dependência por importações e seria empurrado, cada vez mais, à posição de exportador de commodities, perdendo negócios com produtos industrializados de maior valor agregado”, disse.

A lição veio da China. Por conta da falta de uma visão de longo prazo é que o Brasil teve que importar até máscaras, seringas, além das fundamentais vacinas e, ainda, enfrentar a falta de container para o transporte de mercadorias. E agora, de novo, vivencia a falta de fertilizantes (80% de fora) que garantem a alta produtividade das super safras a cada ano.

Não há outra saída. Sérgio Melo entende que a atualização industrial tem o suporte financeiro de organismos públicos como o BNDES e bancos regionais como o Banco do Nordeste, este contando com a garantia de fundos constitucionais, recursos com 2 a 3 anos de carência, 10 anos para pagamento e taxas de juros competitivas entre 4,5% a 5%. Também a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) disponibiliza recursos para a inovação, condição para a sobrevivência de qualquer empresa. 

Falta de prioridade

Apesar da disponibilidade de recursos públicos, sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) junto a executivos e CEOs de 196 médias e grandes empresas industriais e de serviços entre outubro de 2021 e fevereiro de 2022, mostra que apenas 10% delas utilizaram linhas de financiamento público à pesquisa e desenvolvimento (P&D) e que 89% custearam seus projetos de inovação. Os números foram divulgados, neste mês de março, no 9º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria,promovido pela CNI e Sebrae.

Na ocasião, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, disse que os resultados confirmam uma realidade que se arrasta há anos e há governos no Brasil: o país não prioriza a área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Basta saber que em 2019 (último dado disponível) o Brasil investiu 1,21% do PIB em P&D entre recursos públicos e privados, contra 1,17% em 2018, distante do mínimo desejável de 2% e muito longe do investimento chinês (2,23%).

Fruto do esforço privado, em média, 19% da receita líquida de vendas das empresas resultaram do lançamento de um produto inovador, dois pontos percentuais acima do ano anterior. Outra notícia animadora é saber, pela Sondagem da CNI, que mais da metade (51,1%) das empresas pesquisadas tiveram alguma cooperação com outra organização unindo conhecimentos entre si e com universidades e startups, a chamada inovação aberta, o que acelera o processo. O fato talvez explique o crescimento de 86% em cinco anos dos projetos industriais focados em inovação e pesquisa, conforme acompanhamento da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e que até janeiro de 2022 já apoiou 1500 projetos de 1.031 empresas que somaram investimentos de R$ 2,0 bilhões e resultando em 525 pedidos de propriedade intelectual.

A gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha, confirma que houve atualização tecnológica justamente neste núcleo de indústrias já inovadoras. Quando se olha para a média da indústria de transformação, o quadro é diferente já que, historicamente, a indústria nacional convive com baixa produtividade, o que só se agravou com a Covid-19, intensificando as carências de insumos e de infraestrutura, aumentando o já desgastado Custo Brasil.

A saída urgente, segundo a gerente Samantha, é a da economia digital. “Temos gargalos antigos e desafios novos”, resume ela, acreditando que a digitalização é uma grande oportunidade para melhor nivelar a performance da indústria brasileira que requer uma política especial voltada à inovação.

Apesar da dura realidade enfrentada nas rotinas das empresas, o Brasil tem potenciais a serem desenvolvidos e que podem se tornar diferenciais tais como a transição energética para o baixo carbono, a sustentabilidade e a tecnologia 5G para dar maior velocidade de transmissão, viabilizando outros negócios, como o de veículos autônomos e na área da medicina, que requerem respostas rápidas.

Indústria preparada

Um dos indicadores de que, apesar da pandemia, a indústria não descuidou de sua estrutura tecnológica vem do segmento de máquinas e equipamentos usados em grandes obras de infraestrutura.A Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), que reúne as maiores fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços do setor, garante que as inovações são aparentes e ocultas. O vice-presidente Eurimilson Daniel lembra que em geral as obras são a céu aberto, o que preservou o setor durante a Covid-19, diferentemente dos estragos da Operação Lava Jato que retirou as maiores construtoras e empreiteiras do mercado.

O fato abriu espaço para operadores regionais, o que resultou numa pulverização no segmento formando um novo e fortalecido mercado. O executivo da Sobratema garante que está em curso um robusto e continuado movimento de modernização de equipamentos com motorização eletrônica, mais econômicos e sustentáveis e com a multiplicação de modelos de diferentes tamanhos, potências, velocidade e capacidade para variadas aplicações. “Este é o resultado da inovação no nosso setor, o que justifica ainda mais o avanço da opção de locação de equipamentos, garantia de máquinas de última geração, que já representa 85% dos negócios em se tratando de guindastes e 90% em plataformas”, exemplifica.

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