Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração

BLOG SOBRATEMA

Publicado em 26 de agosto de 2021 por Mecânica de Comunicação

Importância da avaliação de risco à saúde humana em áreas contaminadas

O antigo Aterro Controlado do Jóquei Club (ACJC), no Distrito Federal, onde hoje se situa a Unidade de Recebimento de Entulhos (URE), foi oficialmente fechado em 2018 e a partir dessa data recebe somente os resíduos da construção civil. Porém, o início da disposição de resíduos no ACJC remonta ao fim da década de 1960 e era realizada fora do domínio onde hoje se situa a URE.

Á época, o DF contava com uma usina de tratamento, que possuía capacidade para processamento do montante produzido no distrito. Porém, por questões relacionadas a manejo e transporte, os resíduos produzidos no território eram dispostos em vazadouros a céu aberto localizados próximos aos centros urbanos. Estima-se que a disposição nessa região – fora do domínio atual do ACJC/URE – se deu até o ano de 1978.

Na década de 1970, com o progressivo aumento populacional no DF e a modernização de sua gestão de resíduos sólidos durante tal período, os vazadouros a céu aberto foram gradualmente desativados. A partir de 1978, pela demanda por áreas para disposição final, iniciou-se a utilização da área onde atualmente se encontra a URE – que a partir de 1985 se tornou a única área disponível para tal no DF – e ao final do ano de 1996 tal área apresentava-se completamente coberta.

O histórico da disposição de resíduos sólidos no ACJC permite concluir que pouco ou nenhum controle da natureza dos resíduos dispostos era realizada. Portanto, há certa coerência em se esperar que a composição gravimétrica dos resíduos dispostos seja similar a dos resíduos coletados.

A dissertação de mestrado Ferramenta computacional para avaliação de risco à saúde humana em áreas contaminadas - caso de estudo: Aterro Controlado do Jóquei Clube de Brasília/DF, defendida por Felipe Leite Nisiyama, no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília, sob orientação do professor André Luís Brasil Cavalcante e coorientação do professor Luciano Soares da Cunha, propôs um modelo conceitual da contaminação tridimensional onde se situa o ACJC, contendo as superfícies topográficas atuais e reconstituídas e a superfície freática.

Com isso, identificou-se que a abrangência da zona não-saturada se limita a uma profundidade de 10 m , em média, com relação à base presumida do aterro e é constituída primordialmente por latossolos porosos. Ainda, foi possível inferir que o regime de fluxo na zona saturada é governado principalmente pelos solos mais permeáveis do aquífero de domínio poroso e possui um divisor freático que divide os fluxos direcionados para dois córregos próximos.

No que tange os aspectos relacionados a possível contaminação de tais compartimentos hidrogeológicos, foram reunidas e avaliadas evidências disso relatadas em pesquisas e documentos técnicos. Respaldando-se nisso, foi possível propor discussões acerca da distribuição espacial e mecanismos de transporte das espécies químicas na zona saturada e zona não saturada, com ênfase naqueles cujos níveis de concentração equiparavam-se à valores máximos permitidos segundo a legislação ambiental nacional (Amônia, Nitrato, Chumbo, Cádmio, Manganês, Zinco). Ainda, apresentaram-se evidências de concentrações alteradas – com relação aos valores padrão naturais – de metais pesados (Chumbo, Mercúrio, Cobre, Crômio) em solos superficiais.

Na região adjacente ao ACJC foram identificadas e selecionadas três possíveis zonas de exposição (Zona 1, Zona 2 e Zona 3), nas quais os indivíduos provavelmente estiveram em contato com os compartimentos ambientais afetados pelo ACJC. Para estas zonas, os possíveis meios de exposição (Águas subterrâneas e solos superficiais) e vias de ingresso (Ingestão e contato dermal) foram considerados para fins da quantificação das exposições.