Publicado em 20 de novembro de 2025 por Mecânica de Comunicação
As finanças climáticas praticamente dobraram na última década, com USD 4.8 trilhões acumulados entre 2011-2020. Apesar do avanço, esses valores ainda são insuficientes para atingir os objetivos de mitigação e adaptação das mudanças climáticas, como estabelecido no Acordo de Paris.
A expansão dos investimentos privados e o compromisso de instituições financeiras com práticas sustentáveis indicam uma tendência positiva, porém, é necessário um maior engajamento do setor privado. O papel do setor público se mantém crucial, não somente para direcionar investimentos em áreas de maior complexidade, mas também em criar um ambiente propício para a colaboração público-privada. Os financiamentos de capital híbrido (blended finance), combinando recursos públicos e filantrópicos, poderão endereçar os riscos associados aos investimentos climáticos e incentivar a participação do setor privado em iniciativas de baixo carbono.
A escassez de financiamento direcionado à agricultura e uso da terra, apesar de sua contribuição significativa para as emissões globais, aponta para uma lacuna preocupante na abordagem das finanças climáticas. Isso reflete uma desconexão entre a importância do setor e a alocação de recursos, demonstrando a necessidade de um redirecionamento estratégico. A constatação de que apenas uma pequena porcentagem das finanças climáticas está sendo alocada para sistemas agroalimentares destaca a urgência de uma abordagem mais robusta e focalizada em estratégias de baixo carbono nesse setor crucial.
No cenário brasileiro, a discussão em torno do sistema de financiamento rural evidencia a busca por inovações e reformulações para impulsionar o financiamento do agronegócio. A transição para uma agricultura de baixo carbono, efetivamente, pode contribuir para mitigação e adaptação climática. Há, no entanto, barreiras a sua implementação em escala compatível com a mudança que precisa ser realizada. Se por um lado, os custos de insumos da agricultura convencional podem ser evitados, há também os custos de transição e a incerteza dos retornos imediatos, os quais normalmente são observados em médio e longo prazo.
A mudança à agricultura de baixo carbono não ocorre de imediato, e isso pode trazer prejuízos para o produtor rural, caso não tenha assistência técnica para a implementação e mudança. Para o sucesso do momento de transição é importante mapear as principais barreiras para que os modelos financeiros incorporem as soluções.
A renda oriunda de monoculturas e produção convencional da pecuária é conhecida e já existem mercados disponíveis com extrema liquidez. A mudança deve levar em conta esses pontos de modo a fornecer estruturas específicas para cada caso em específico, identificando as particularidades da área e fluxos de caixa alternativos, como aqueles relativos à pagamentos por serviços ambientais e créditos de carbono, ou até mesmo integrar o turismo, caso a região tenha aptidão para tanto.
Ante a importância de composição de renda dos produtores rurais que objetivam a realização dessa transição na agricultura, a geração de créditos de carbono pode motivar o desenvolvimento deste mercado. Isto porque, além do lucro da comercialização dos produtos agrícolas tradicionais, espera-se nas práticas de baixo carbono agregar retornos decorrentes da geração desses créditos e sua posterior comercialização.
A diversidade de estruturas de capital, estratégias de retorno e impactos climáticos e sociais ressalta a complexidade do desafio e a necessidade de soluções personalizadas para diferentes contextos e biomas.
As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Um novo capítulo no financiamento privado do agronegócio: instrumentos financeiros para a transição brasileira à agricultura de baixo carbono, defendida por Phillipe Käfer Haacke de Oliveira, na Escola de Economia de São Paulo (EESP), da Fundação Getulio Vargas (FGV), sob orientação do professor Eduardo Assad.
Av. Francisco Matarazzo, 404 Cj. 701/703 Água Branca - CEP 05001-000 São Paulo/SP
Telefone (11) 3662-4159
© Sobratema. A reprodução do conteúdo total ou parcial é autorizada, desde que citada a fonte. Política de privacidade