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Publicado em 28 de março de 2024 por Mecânica de Comunicação

Cadeia de reciclagem de equipamentos elétricos e eletrônicos foca em componentes de alto valor agregado

Nos países em desenvolvimento e, em especial, no Brasil, o cenário do gerenciamento de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) caracteriza-se pelos seguintes elementos: alto grau de reparo e reuso, o que ocasiona a extensão da vida útil dos equipamentos elétricos e eletrônicos (EEE); grande parcela dos REEE é coletada com os resíduos sólidos urbanos e acaba sendo disposta em aterros; parte dos REEE coletados é exportada para ser processada e reciclada; as etapas de coleta, logística, processamento e reciclagem dos REEE apresentam alto grau de informalidade.

Há indícios de um mercado de reutilização de REEE, mas o tamanho desse mercado não é facilmente mensurável. O reuso de EEE em cascata mostra-se bastante comum, baseado na revenda, como equipamentos de segunda-mão, pela internet ou mesmo em lojas, e na doação desses equipamentos para entidades assistenciais ou diretamente a pessoas de baixa renda, prolongando o tempo de vida útil do produto, mas com grandes variações regionais.

Visto que custa caro construir e operar usinas de reciclagem formais, elas acabam sendo raras em países menos desenvolvidos, como o Brasil. Assim, observa-se que, durante o processamento informal dos REEE, retiram-se somente os materiais de maior valor e potencial de venda e descarta-se, muitas vezes inadequadamente, o restante.

A participação de catadores na coleta de REEE no país não é tão representativa quanto no caso de outros materiais, tais como as sucatas metálicas, sendo o método de coleta mais comumente empregado pelos recicladores formais o recebimento dos REEE diretamente das empresas parceiras ou clientes (envio direto). Em 2018, foram identificados 134 recicladores de REEE atuando no país, a maioria concentrada nas regiões sudeste e sul, principalmente no estado de São Paulo, onde estão 45,5% deles. Há recicladores informais, ou seja, que não possuem autorização para realizar a atividade de reciclagem de REEE e que, em geral, não empregam as devidas medidas de proteção ambiental e da saúde ocupacional.

Quanto à cadeia de reciclagem de REEE no país, ela opera de forma a concentrar os componentes de alto valor agregado e exportá-los. As receitas com a exportação são elevadas, a pontos de manter toda a cadeia, que pode chegar a ter até cinco agentes envolvidos: catadores, empresas de desmontagem, empresas nacionais de reciclagem, exportadores e recicladores no exterior. No Brasil são realizadas somente as etapas iniciais da reciclagem dos REEE, isto é, a triagem, desmontagem e, em alguns casos, a trituração.

Os materiais que podem ser separados manualmente de menor valor agregado, tais como alumínio, cobre, ferro, plásticos e vidro, são destinados a recicladores dentro do país, que realizam o processo de reciclagem característico de cada material. Já os materiais ou componentes cuja desmontagem é complexa e que possuem alto valor agregado, pois possuem metais preciosos e escassos, tais como placas de circuito impresso, discos rígidos, memórias e processadores de computadores, bem como refrigeradores, são exportados para serem reciclados em países como Estados Unidos, Singapura, Japão, Bélgica, Holanda e Alemanha.

A maioria dos recicladores no país possui apenas instalações para a descaracterização de eletroeletrônicos de pequeno e médio porte, como computadores, havendo somente duas unidades que possuem equipamentos para recuperação de gases CFC dos materiais de isolamento térmico de refrigeradores e para trituração de eletrodomésticos de grande porte; portanto, há a necessidade de ampliar a capacidade nacional de reciclagem de modo a poder atender à futura implantação de um sistema de logística reversa plenamente operacional e abrangente.

As informações acima foram extraídas da dissertação de mestrado Logística reversa de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos: proposta de indicadores de monitoramento para órgãos ambientais, defendida por Raissa Silva de Carvalho Pereira, no Programa de Pós-Graduação Ambiente, Saúde e Sustentabilidade, da Faculdade de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo, sob orientação dos professores Wanda Maria Risso Günther e Flávio de Miranda Ribeiro.